Que fim de semana tão rápido
Assim também têm sido as semanas
Deve ser por andar tão ocupado
Preciso de uns dias nas Bahamas

Isto não é poesia
Nem tão pouco filosofia
É apenas a vida
Escrita para ser mais tarde lida

Deitado na cama junto à janela
escrevo e observo as luzes lá longe.
Imagino-me a pé naquela estrada
carros passam e eu sou fantasma iluminado
Quem sou eu?
Tento voltar para a cama
mas estou ainda lá naquela estrada
e agora reparo naquela janela iluminada
alguém escreve deitado na cama.

Tenho uma ferida aberta
Durante a semana é rasgada
durante o fim de semana é cicatrizada
completamente, talvez só no Verão
Mas até lá tenho que ver se não infecta
Porque aí terá sido um ano em vão.
Somos quatro irmãos parecidos
fisicamente, culturalmente, diferentemente
Juntos podemos andar despidos
sentimos sempre quando está um ausente

Francisco o palhaço constante
António o sentido de humor cortante
Maria a ternura, feitio vibrante
E eu que os vi nascer, radiante

Mais a sul, na ilha dos Portugueses
não deve chegar tão cedo o João Pestana
Quem sabe eu vá lá algumas vezes
eu que gostava das histórias do João sem medo

Estou doente, tenho o corpo quente
mas nem a médica oiço inteiramente
Assim sou livre, assim está a morte presente
e vivo a vida mais intensamente.

Vi outro dia um rebentamento
A terra toda do seu esplendor
O Sol, o rio, sem vento, sem tempo
A Terra parou e gritou de dor.