Final feliz

Que o final seja feliz
Deste malogrado ano
O mundo pela janela
Suspense e algum progresso
Período sabático
Consolidação de leituras e namoros
De divórcios e tréguas com ex maridos
As quatro estações nas traseiras do prédio
Os dias que se estenderam e encolheram
O cão que envelheceu 7 anos
E nós cá vamos estando
Cronicamente magros de natureza
Irmãos ramos que se bifurcam
Todos à procura de sol
Eu no meu caminho de ferro
Mantenho a caldeira acesa
Tentando gerir o vapor.




Final de Novembro

Final de novembro
5 da tarde
É quase de noite 
É bem possível que não nos voltemos a ver 
É possível que não amemos assim outra vez
Que o sexo não saiba assim outra vez 
É possível 
Mas não impossível 

Não é preciso esquecer 
mas temos que procurar entender 
Sobrevivamos ao Inverno 
reaprendamos a viver 
rumo à Primavera 
dias felizes 
verão.

Prazer

Ai este prazer 
de nada fazer 
Acordar tarde 
mas não demasiado tarde 
Só fazer o que me apetecer 

Ver primeiro o dia 
se está sol ou a chover 
as notícias em Portugal no mundo 
o sabor das torradas e café 

Depois depende 
Ir às compras 
Surfar, correr, bicicleta 
ou simplesmente ficar a ler
as horas a passar 

Almoçar com a Soraia 
combinar o próximo fim de semana
se vamos à praia
ver o Tejo ou o Alentejo 
 
Depois do almoço a sesta 
como se estivesse no sul de Espanha 
em Rosal de la Frontera 

Quando acaba é o corpo que deve dizer 
a cabeça deve obedecer 
Entretanto ou tão pouco 
chega a Soraia 
cansada, aliviada 
Mais um dia, dever cumprido 

Quanto a mim.. 
não sei bem 
Ler mais um pouco 
percorrer a rede social 
assistir ao crepúsculo 
ao sol poente 
as luzes dos candeeiros 
tratar do jantar 
mais um serão na televisão 
dormir como se fosse acordar.

O Crohn voltou

O Crohn voltou
e com um fio
deu o mesmo nó górdio
que tinha dado da primeira vez.
Agora só com corticóides,
medicação de risco com covid.
Confinamento e máscara
para sair, se sair.
Mais uma razão para ficar,
pela viagem a Portugal
junto à princesa da Pérsia.
Deixo a caravana passar
em direcção à Guiné,
e mantenho lugar cativo no sofá lusitano,
onde viajo pela livraria cá de casa,
que vai somando ao ritmo de uma semana de cada vez,
passando assim mais um mês.

Corona Vírus

Corona vírus
o galopante
fecha-nos em casa,
repõe as fronteiras.
China, Itália, Espanha,
Portugal.
O mundo pára
Os empregos afinal são só empregos.
Só valemos se formos médicos, enfermeiros
ou ministros e secretários de estado.
Esperamos em casa porque ele está a chegar.
Irá bater à porta devagar, subtilmente,
com a mão contaminada e a sua tosse seca.
Nos hospitais será o caos, sem ventiladores.
Depois da pandemia e do pandemónio
irá simplesmente embora, cremos nós.