Agustina

"Ali estava eu a fazer regime tão brutal que me precipitou na anorexia. Bebia vinagre e quase não me sentava para comer, continuava a ler tudo o que podia e de repente pus-me a escrever um livro." Agustina Bessa Luis

Soraia

A Soraia além de ser minha gestora de conta, era agora minha vizinha, desde que me tinha mudado para o Lumiar, para um pequeno apartamento com varanda, na praceta da minha infância, ao lado do antigo café dos meus avós.

O poema do amor

O poema do amor
surge da plenitude do nosso ser
que parece que se anula
refletindo-te em tudo o que nos rodeia.
E só vemos flores, pássaros e cantar
numa vibração contagiante de primavera.
Depois da ilusão
deitamo-nos melancólicos sem chão
e escrevemos algo que te mantenha presente
para sempre.

Casas e prédios

Arquitectamos as nossas casas e prédios
entre as montanhas e os rios
virados para a praia
orientados a sul.
Assim fazemos com as nossas vidas
as nossas pessoas, os nossos trabalhos
ajustamos aqui e ali.
Vamos vivendo.
Caímos às vezes numa depressão topográfica
saímos dela e continuamos.
Amamos, com sorte somos amados
Admirados, odiados
E continuamos.
Até um dia, uma hora
em que nos vêm buscar
Ou a ela nos entregamos
sem mais a relatar.

Malawi

Recordações quentes de vida
O cheiro da fogueira, no acampamento
A estrada de terra batida
A bicicleta cheia de lenha
Os miúdos da escola
O Lago Niassa
África.

Portugal
Esta metrópole onde cresci
O rio, o mar, o cimento
Os meus irmãos
O meu cão
A escola onde trabalho
Montanhas, serras e praias.

Vanitas

Envelheci tanto nos útimos anos.
33 Invernos de frio e chuva quente na lareira.
Há uma caveira na secretária onde me sento
todos os dias da semana.
O tempo, 3, 13, 23, 33..

E continuará, contigo nua,
como um ramo de uma flor num jarro.
Mundos outrora revisitados.
Volto a casa,
A esta cama, este leito.
Naturalmente morro
como uma folha de Outono.

E se ficasse só?
Só, sozinho
Na minha casa, só minha.
Que triste por vezes
Que confortável
O que faço?
Lancho, descanso
Dou a volta ao mundo com um dedo
Danço, movimento, penso.
Quando deixará de fazer sentido?
Escrevo.
E volto a ligar a televisão.
Imagino que estavas comigo hoje, esta noite.
E durmo, esticado, largo, confortável,
comigo 
só.

Chaminés de Setúbal

Magro,
Por vezes leviano, 
Português, companheiro.
Preparo o derrube das chaminés de Setúbal
200 metros de vertigem
Como uma árvore
Abrindo uma cunha
Cortando a estrada
O Sado
E o corredor aéreo
Contagem decrescente
Detonação controlada
E já está.

Apesar do destino

Apesar do destino
A vida é feita de decisões.
Há horas, dias, anos, décadas
boas e más, ou menos boas e menos más.
A mãe perdeu o Pai, o pai perdeu a Mãe.
Os filhos sofrem com a mãe, sofreram também com o pai.
A vida segue dia após dia, ano após ano, década após década.
As décadas são cerca de sete, com sorte nove
É o destino.

Farol da Costa Nova

A casa que viemos a habitar este verão é como um farol
Junto ao mar, afastada do centro
O mar entra por todas as janelas
De dia com o seu azul distante
de noite o rugido das espumas constante
No horizonte os navios sem destino
Ao jantar, no terraço
O pequeno candeeiro de abajur 
Vermelho e branco
ilumina as suas 
viagens no Atlântico.

Olho de Lince

Que olhar foi esse que me deste hoje.
Um olhar de curiosidade para veres se ainda gosto de ti.
Um olhar mais profundo pois talvez percebeste-te que gostavas um pouco de mim!
Talvez que esta semana que não nos vimos te fez pensar em tudo o que de mim mostrei.
Que era irmão e pai ao mesmo tempo. 
Que era organizado e paciente, e anárquico e impulsivo.
Que era magro mas também forte e resiliente. 
Corajoso e adulto para já não me atirar com um mortal para a piscina.
A paixão por ti vai morrer assim aos poucos. Vais arranjar alguém mais próximo do que procuras.
Eu também vou continuar sem ti.
Mas talvez para sempre fique entre nós, aquele olhar que te fiz naquelas férias no arquipélago.

Olho de Lince- Luís Severo

Açores

Viagem aos Açores. Ao Portugal que me faltava nesta redescoberta da minha raiz. Passaram dois anos e meio desde o regresso de África. Tempo recuperado com os meus irmãos, a minha mãe, o meu pai. Os meus avós que estão a ficar velhotes.
Tempo de trabalho na realidade portuguesa: pedreiras, minas, obras. Tempo na cidade, nas planícies, serras e vales, nas vilas e aldeias do interior.

Lumiar

Regresso ao Lumiar,
à minha infância e aos meus avós.
Zona de passagem das rainhas
A Leonor, a Amélia, a Santa Isabel.
A casa que vim a habitar, virada a sul
está no sexto andar vindo do céu.
Da varanda comprida, olho em direcção à cidade.
Mais longe seguindo o azimute certo
a silhueta da Arrábida.
Por vezes quando o sol
se despede, brilham as cristas calcárias do jurássico ou do cretácico.
Passaram ali, extinguiram-se passados uns tempos.

Best of 2017

Music

Charlotte Gainsbourg - Rest
Luís Severo
Benjamin & Barnaby Keen - 1986
Mac de Marco - This Old Dog
Kevin Morby - City Music
Cigarretes After Sex
Eme - Domingo à tarde

Cinema

Fábrica de Nada
Martin Scorcese - Silence
Cartas de Guerra - António Lobo Antunes
Nuno Lopes - São Jorge
Peregrinação - Fernão Mendes Pinto
Wim Wenders - Paris Texas

Declaração do Ambiente

"O homem tem direito a viver num ambiente cuja qualidade lhe permita viver com dignidade e bem-estar, cabendo-lhe o dever solene de proteger e melhorar o ambiente para as gerações actuais e vindouras." 1972