Should I stay or should I go

Chove como já não chovia há muito tempo. Vou para África, é o mais provável, seja para a mota-engil ou outra empresa qualquer. Tenho 26 anos, o que estou aqui a fazer? Preciso de sair daqui, conhecer outro lugar, ser independente, aprender a cozinhar, dar espaço aos outros e a mim mesmo para crescer. Não vou ver a minha irmã, os meus irmãos, a minha mãe, o meu pai, por períodos de 4 meses. Não é muito tempo, é muito tempo! Mas estou há dez meses parado no tempo, tenho que ir.

Teahupoo


Há tanto a dizer sobre um dos melhores campeonatos de surf já alguma vez visto. A memória de Andy Irons, o swell gigante anunciado e a ansiedade dos melhores surfistas do mundo (tal e qual o comum dos surfistas embora para isso basta que as ondas tenham 2 metros), o go for it do Jeremy na madrugada que as ondas começaram a explodir na bancada com 10 pés, o wipeout do Heiarii Williams que me fez pensar que o campeonato deveria ser cancelado pois não queria ver ninguém morrer em frente ao computador, o melhor layday de sempre com a sessão de tow-in indescritível com Bruce Irons, a prestação digna de Saca, a confirmação de mais uma fornada de ozzies: Owen Wright, Josh Kerr, Matt Wilkinson e Julian Wilson, de onde sairá muito provavelmente os próximos campeões do mundo, e claro, o show de Kelly. Tudo isto a acontecer dentro do tubo, a uma velocidade alucinante, com a visão da cortina de água a passar sobre as nossas cabeças, instantes congelados para sempre na nossa memória.

Andy Irons

Andy Irons (Peniche, 2010)
Passaram cerca de 10 meses desde a morte trágica e inesperada de Andy Irons. Ainda ninguém o esqueceu, principalmente agora com a etapa do WCT de Teahupoo,  último campeonato ganho por AI e que provou a toda a gente, a ele próprio principalmente, que ainda conseguia ganhar. Foi emocionante vê-lo ganhar depois de ter assistido ao período negro que atravessou tanto a nível profissional como a nível pessoal. É estranho ver surfistas que imaginamos que têm vidas de sonho deixarem-se levar nestas marés que afinal também fazem parte da vida. Vem apoiar a minha perspectiva que ao longo de uma vida todos temos que atravessar fazes menos boas e talvez AI, com sucesso precoce, as facilidades de surfista de topo, a excitação da vida no tour, ainda não tivesse experimentado a sensação de ser apanhado nesse agueiro, suponho. Faleceu, ou melhor, deixou de surfar aos 32 anos e será sempre recordado como o único que esteve à altura de rivalizar com o surfista (quiçá desportista) mais bem sucedido da história, Kelly Slater. Foi um surfista implacável em competição, com um surf solto mas preciso, e um repertório completo de manobras, ele era floaters em ondas de 5 metros, completava aéreos em competição numa época em que quase ninguém os fazia e era sem dúvida o rei da melhor onda do mundo: Pipeline.


Deixou Lindy, a sua belíssima mulher grávida de 8 meses do seu filho, Axel Irons que nasceu no dia do início do Pipeline Pro 2010. E o irmão Bruce, por agora, solitário guardião do surf dos Irons, nascido e polido nos reefs rasos e afiados do North Shore da ilha de Kauai, Hawai.

Bruce, Lindy and Axel Irons
AI, Hossegor, France

Jeff Buckley

Na noite de 29 de Maio de 1997, a banda de Jeff Buckley voava para Memphis para se lhe juntar e iniciar as gravações em estúdio do albúm sucessor de Grace (1994), intitulado My Sweetheart the Drunk. Nessa mesma noite Jeff Buckley foi nadar no rio Wolf, um afluente do rio Mississipi, não tirando a roupa que tinha vestido nem as suas botas enquanto cantava o refrão de "Whole Lotta Love" dos Led Zeppelin recorda Keith Foti, rodie que o acompanhava nessa noite, e que ficou em terra. Depois de ter movido o rádio e uma guitarra da margem devido às ondas provocadas pela passagem de um barco rebocador, Foti olhou para ver se via Buckley mas este tinha desaparecido. Apesar de intensas buscas o seu corpo só foi encontrado no dia 4 de Junho no rio Mississipi junto a uma pequena embarcação.



O Sol e o Vento

Ao cair da noite, ao pôr-do-sol, há muitas vezes um período de acalmia do vento que marca a mudança na sua direcção, do mar para terra (onshore) para o seu oposto, terra para mar (offshore). Durante o dia as massas da terra são aquecidas pelo sol mais rapidamente do que as do oceano, o ar em cima delas ascende e cria uma baixa de pressão no solo que atrai o ar mais fresco do mar, a chamada brisa marítima. De noite, como o oceano arrefece mais lentamente, a brisa sopra de terra para o mar. Hoje ao final da tarde consegui sentir esse momento sublime, em que as temperaturas na terra e no mar são exactamente iguais. Deixou de haver vento, a mais leve brisa, houve silêncio total na rua e o tempo pareceu congelar. Epifania.

Surfing pointbreaks and sleeping under pine trees


Hot sand on toes, cold sand in sleeping bags,
I've come to know that memories
Were the best things you ever had
The summer shorn beat down on browned backs
So far from home where the ocean stood
Down dust and pine cone tracks
We slept like dogs down by the fire side
Awoke to the fog all around us
The boom of summer time

We stood
Steady as the stars in the woods
So happy-hearted
And the warmth rang true inside these bones
As the old pine fell we sang
Just to bless the morning.

Hot sand on toes, cold sand in sleeping bags,
I've come to know the friends around you
Are all you'll always have
Smoke in my lungs, or the echoed stone
Careless and young, free as the birds that fly
With weightless souls now.
We grow, grow, steady as the morning
We grow, grow, older still
We grow, grow, happy as a new dawn
We grow, grow, older still
We grow, grow, steady as the flowers
We grow, grow, older still
We grow, grow, happy as a new dawn
We grow, grow, older still

Old Pine
Ben Howard

Location: Vila do Bispo, Sagres