Warm Heart of Africa I

Escrevo de Lisboa. Já matei as saudades da família, já estive no café com os amigos, já senti o frio de inverno na cara, já estive com os pés frios, já me irritei no shopping com as compras no natal e já estou com a neura de passar o dia em frente ao computador.

Já me esqueci de metade das coisas que pensava escrever enquanto ia em viagem pelas estradas do Malawi ou do Zimbabwe, embalado pelas curvas e buracos da estrada, pela visão das montanhas arredondadas pelas chuvadas de há milhões de anos, pelas buzinadelas às bicicletas carregadas de sacos de carvão e pelos vendedores de mangas, cogumelos, espetadas de ratos à beira da estrada. Foi um mês e meio intenso, de descoberta, a 1ª vez em África, como a 1ª vez em outras coisas, foi a melhor. Foi um período feliz vivido em pleno, de forma genuína, simples e em liberdade, sem tretas. Conheci várias pessoas boas que me receberam bem, conheci muitos malawianos que me supreenderam pela bondade, inteligência e capacidade de trabalho. Fui tratado como um ser de outra planeta pelas populações mais rurais, os mais pequeninos choravam, os mais velhos olhavam-me com curiosidade e riam-se a cada palhaçada minha. Quando os assustava a brincar fugiam todos para o mais longe que conseguiam enquanto as mães riam às gargalhadas, depois voltavam. Foi assim o primeiro fim de tarde que fui ao poço da aldeia buscar água. 

Ao olhar pela janela do avião na abordagem à pista de Lilongwe vê-se cubatas, terra avermelhada pintalgada com árvores aqui e ali e pequenos campo agrícolas. O aeroporto é pequeno e suficiente para o único avião que aterra diariamente. Puxo as mangas da camisa e preparo-me para o calor. Ao pisar a pista entro num fime nunca visto de um estilo que ainda não tinha ouvido falar. Hi Bwana, welcome to the warm heart of Africa.

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